Durante muito tempo, a grande maioria dos estudos dermatológicos tinham como referência apenas a pele clara, existindo poucas publicações que abordavam cuidados específicos só observados na dermatologia da pele negra.
Atualmente existem mais estudos disponíveis e o número de profissionais especializados em cuidar da pele negra vêm crescendo a cada dia.
Devido às suas características únicas, como por exemplo a maior presença da melanina (pigmento natural da pele), a pele negra faz com que sejam necessários cuidados especiais e específicos.
Importância da dermatologia na pele negra
Por apresentar algumas características particulares, a pele negra demanda cuidados específicos. A elevada presença de melanina, confere naturalmente um fator de proteção solar a esse tipo de pele, o que minimiza seu envelhecimento, mas também causa uma maior propensão ao aparecimento de manchas.
Para lidar com todas essas particularidades, é muito importante os cuidados de um médico dermatologista especializado na pele negra, pois somente esse profissional será capaz de realizar diagnósticos precisos e indicar melhores produtos e tratamentos.
Atualmente, têm-se observado com maior frequência nos hospitais e consultórios dermatológicos, que a pele negra é acometida por algumas doenças características como quelóides, manchas e pêlos encravados.
O reconhecimento desses sintomas e suas variações é muito importante a fim de se obter o diagnóstico correto e impedir eventuais tratamentos desnecessários.
Diferenças em relação à pele clara
Embora não haja uma definição única para caracterizar a pele negra, existem algumas diferenças marcantes em relação à pele clara.
A principal delas diz respeito à uma maior produção de melanina, o pigmento natural da pele, o que lhe confere naturalmente uma maior proteção contra a radiação solar.
Estudos demonstraram que há maior melanogênese (produção de melanina, o pigmento natural da pele) nos negros e esse conteúdo de melanina confere naturalmente fator de proteção solar (FPS) 13,4 à pele negra.
Essa chamada proteção natural faz diminuir os efeitos do fotoenvelhecimento além de minimizar a propensão a tumores cutâneos e o aparecimento de rugas.
Devido a essa maior presença da melanina, a pele negra também tem uma maior propensão ao aparecimento de manchas aos mínimos traumas, queimaduras, irritações ou inflamações (como alergias e espinhas).
Outra diferença da pele negra em relação à pele clara diz respeito à sua estrutura, mais rígida, o que a torna mais firme e resistente, menos propensa à flacidez e ao aparecimento das tão temidas celulites.
É sempre válido ressaltar que o fato de possuir uma maior proteção não substitui o uso de protetores solares.
Doenças mais comuns na pele negra
Em relação às patologias de pele, existem algumas doenças dermatológicas que são claramente mais comuns em indivíduos com pele negra e podem apresentar características específicas nesse tipo de pele.
Dentre elas destacamos:
- Manchas;
- Alopécia ou queda de cabelo;
- Acne e cicatrizes resultantes;;
- Foliculite;
- Tom de pele irregular (hiper ou hipopigmentação);
- Cicatrizes e quelóides;
- Dermatose Papulosa Nigra.
É sempre recomendado um estudo diferenciado, realizado por profissionais especializados, para a indicação de tratamentos adequados às diversas patologias da pele negra.
Alguns procedimentos estéticos e cirúrgicos devem ser realizados com maior cautela, visto que há maior chance de danos permanentes.
Mesmo assim, pessoas da raça negra podem e devem realizar procedimentos estéticos como peelings e lasers, desde que bem escolhidos, orientados e preparados.
Câncer de Pele
O câncer da pele é menos comum na pele negra. Contudo, possivelmente pelo resultado de diagnósticos tardios, pacientes negros estão convivendo com um aumento significativo de suas morbidades e mortalidade.
O tipo mais comum de melanoma diagnosticado em pessoas de pele negra é o lentiginoso acral.
Esse câncer geralmente se manifesta de forma bem agressiva nas palmas das mãos, plantas dos pés e unhas, e sua evolução pode ser rápida. Um diagnóstico ágil é fundamental para evitar maiores complicações.
Manchas
A pele negra têm uma tendência a apresentar manchas com mais facilidade do que a pele clara, devido à uma maior presença de melanina na sua região cutânea.
Isso faz com que as manchas nesse tipo de pele sejam mais difíceis de remover, pois ao invés de sumirem com certo tipo de tratamento, elas podem piorar.
Os tipos mais comuns de manchas na pele negra são as causadas pela acne, melasmas, manchas pós foliculite e picadas de insetos.
Para prevenção e tratamento de manchas, o uso de protetor solar e a visita regular ao dermatologista são indispensáveis.
Alopécia
A alopécia também pode ser conhecida como calvície ou queda de cabelo e pode ocorrer em qualquer parte do corpo. Essa condição ocorre em todos os tipos de pele e pode ter origem nas mais diversas causas.
Os tipos mais comuns que podem ser observados em pessoas de pele negra são a alopécia de tração, causada pelo uso de penteados como tranças afro e a alopécia química, causada pelo uso frequente de produtos para alisamento.
Existem alguns tipos de alopécia comuns em afro-descendentes, como alopécia cicatricial central centrífuga, que podem ter uma rápido desfecho em causar microcicatrizes invisíveis no couro cabeludo, podendo gerar perda de cabelos irreversível; por isso, o diagnóstico e tratamento precoces são indispensáveis.
Ao apresentar sintomas de queda de cabelo ou calvície, procure rapidamente um dermatologista, de preferência com conhecimento em tricologia.
Acne e cicatrizes resultantes
As cicatrizes causadas por acne podem aparecer em qualquer tipo de pele, e são facilmente encontradas na pele negra, pois é um tipo de pele mais propenso a ter manchas e marcas devido à alta concentração de melanina.
Pessoas que possuem cicatrizes resultantes de acne severa, podem até ter sua saúde mental afetada. Isso acontece principalmente pelo impacto da doença na auto-estima.
Existe tratamento para esse tipo de cicatriz, mas o mesmo depende da gravidade da lesão causada pela acne.
Muitas vezes é planejado um protocolo de atendimento, contemplando o uso de medicamentos combinados a procedimentos comuns em tratamentos estéticos.
A prevenção é sempre a melhor opção para evitar esse tipo de cicatriz. Portanto, a qualquer sinal de acne, procure sempre um dermatologista.
Foliculite de barba
A foliculite (ou pseudofoliculite) de barba é uma inflamação geralmente causada pela presença de fios crespos (que se enrolam naturalmente) que, combinados com o excesso de oleosidade (fator comum na pele negra) facilita o surgimento de pêlos encravados na pele do rosto e pescoço. É mais comum em homens negros adultos.
Para o tratamento e prevenção da foliculite de barba, é sempre indicado o acompanhamento de um médico dermatologista, pois às vezes, o uso de um simples creme ou sabonete poderá piorar seus sintomas e efeitos. A depilação a laser com tecnologias específicas para pele negra é uma excelente abordagem.
Tom de pele irregular
O tom de pele irregular é considerado um distúrbio de pigmentação da pele e pode ser causado por diversos fatores, sendo os principais por alterações vasculares e por causa da melanina (hiperpigmentação/hipopigmentação).
Outros fatores como alterações genéticas e hormonais, escoriações e ferimentos e exposição ao sol, também podem contribuir para a apresentação de diferentes tons na pele negra.
O melasma é uma condição que pode deixar o tom da pele irregular, provocando manchas marrons especialmente no rosto, sendo muito comum em mulheres.
O vitiligo também pode afetar o tom da pele, principalmente quando se trata da pele negra. A doença provoca o aparecimento de manchas brancas principalmente nas mãos e pés, cotovelos e joelhos.
Cicatrizes e quelóides
As cicatrizes e quelóides podem ser o resultado de uma superprodução de tecido durante o processo de cicatrização da pele.
As células produtoras de colágeno estão em maior número e tamanho, em relação à pele clara, o que pode explicar a formação de queloides, cicatrizes hipertróficas (de tamanho aumentado) e cicatrização irregular.
Não existe cura para quelóides e nem um tratamento que fará desaparecer cicatrizes, mas é possível melhorar bem suas aparências.
Na grande maioria dos casos, procedimentos orientados por um médico dermatologista podem ajudar a reduzir os sintomas, como dor e coceira.
Dermatose Papulosa
Condição muito comum em pessoas de pele negra, a dermatose papulosa é o nome da doença de pele genética causadora de pequenas bolinhas escuras que geralmente aparecem na pele do rosto e região do pescoço.
Essa condição não traz nenhum risco à saúde do paciente, mas normalmente causa certo desconforto estético, podendo inclusive afetar a autoestima do paciente.
O tratamento para a dermatose papulosa é simples e normalmente eficaz e pode ser feito através da combinação de algumas técnicas, realizadas nos consultórios ou clínicas dermatológicas.
Os procedimentos mais comuns são os que “queimam” as lesões com eletrocauterização, nitrogênio líquido ou ácidos.
Pintas Marrons
O aparecimento de pintas marrons na pele negra, assim como em qualquer tipo de pele, pode ser sinal de algumas doenças que somente um profissional especializado poderá definir.
As pintas marrons podem ser sinal de um câncer de pele ou de uma dermatose papulosa, que não traz nenhum risco à saúde.
Ao verificar o aparecimento de pintas marrons em qualquer parte do corpo e principalmente, notando alguma mudança na aparência, formato e tamanho dessas pintas, procure rapidamente um médico dermatologista.
Cuidados com a pele negra
A pele negra possui algumas características especiais que demandam cuidados diários específicos.
Abaixo listamos algumas dicas simples de cuidados para manter a pele negra sempre saudável:
Hidratante
O uso de hidratantes em pessoas de pele negra deve ser orientado por profissionais especializados, pois esse tipo de pele possui características únicas.
A pele do corpo pode apresentar maior grau de ressecamento, enquanto a pele do rosto pode apresentar maior oleosidade.
Geralmente as glândulas sebáceas do rosto costumam produzir maior quantidade de sebo e algumas glândulas sudoríparas podem ter sua produção de suor aumentada, fato que pode gerar um maior aparecimento de espinhas.
De forma geral, são sugeridos produtos livres de óleo e aqueles que possuem componentes que não causam obstrução dos poros da pele (não comedogênicos).
Ingestão de água
Recomendada pela maioria dos especialistas das mais diversas áreas, a ingestão da quantidade ideal de água é de extrema importância para o funcionamento correto do nosso organismo.
Como parte dos cuidados ideais com a pele negra e por ser um hidratante natural, a ingestão de água atua na prevenção do envelhecimento precoce e na manutenção de unhas e cabelos saudáveis.
Ingestão de antioxidantes
Apesar da pele negra possuir uma maior quantidade de colágeno, o que faz com que envelheça mais devagar, este tipo de pele também está sujeito a ação dos radicais livres.
A ingestão de alimentos ricos em antioxidantes é uma excelente dica para combater a ação dessas moléculas.
Alimentos ricos em betacaroteno, que pode ser encontrado em legumes e frutas nas cores vermelha, laranja e amarelo como o tomate, a cenoura, o damasco e o melão.
Já as frutas, são aquelas mais ricas em vitamina C, como a acerola, o caju, o limão e a laranja, que apresentam grande presença de substâncias antioxidantes.
Procedimentos estéticos na pele negra
Em relação aos procedimentos estéticos, ao contrário do que muitos pensam, existem tecnologias e protocolos para todas as queixas da pele negra, assim como para a pele branca.
Portanto, é possível sim a realização de lasers para manchas, melasma, foliculite, depilação, acne, rejuvenescimento para a pele negra também. São também indicados peelings e uso de ácidos específicos.
Em relação ao envelhecimento estrutural da pele, a pele negra apresenta menos rugas de expressão, e para manter a jovialidade, costuma ser indicado o preenchimento facial (principalmente no centro do rosto e olheiras), antes mesmo da aplicação de toxina botulínica.
Dermatologista especializado em pele negra no Rio de Janeiro
Dr. Tiago Silveira é dermatologista, especialista titular pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e pelo MEC ha mais de 10 anos.
Formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com residência médica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi preceptor/coordenador de ambulatórios de atendimento em dermatologia geral e cosmiatria do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay (IDPRDA) – Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
É autor de artigos científicos, capítulos de livros de Dermatologia e participante ativo na comunidade médica, apresentando aulas e trabalhos em cursos de atualização, congressos e jornadas científicas.
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